Uma Utopia Verde
Eu Auroville, um município localizado no Sul da Índia, os residentes têm praticado um estilo de vida sustentável durante anos. E esta poderá ser a solução para a crise climática global.
Eles cultivam a sua própria comida. As suas necessidades são impulsionadas pela energia solar. O lixo que produzem é reciclado. Vivem em total harmonia com o ambiente e entre todos nesta comunidade global de pessoas oriundas de mais de 50 nações. Para os turistas, Auroville, ou a cidade do despertar, parecia um destino utópico, onde as pessoas praticam um estilo de vida sustentável, dando vida a um pedaço de terra outrora deserto localizado entre o Território da União de Puducherry e o estado de Tamil Nadu. Preconizado pelo ativista e filósofo Sri Aurobindo e sua Mãe, aqui os princípios da vida estão centrados num conceito de consciência interior pela unificação da mente, corpo, e natureza. Como resultado, existe uma evidente consciência de toda a comunidade para um estilo de vida sustentável e verde.
Auroville tem dois tipos de residens: permanentes e temporários. Um pode passar aqui um dia para uma visita guiada ou optar por ficar em um dos muitos agrupamentos enquanto contribui no trabalho diário do município. Eu voluntariei-me na Quinta da Solidão, uma dessas comunidades, durante 32 dias.

QUINTA DA SOLIDÃO
Apenas algumas horas após a minha chegada à Quinta da Solidão, fui recebido com uma onda de perguntas. “De onde vem a sua comida? O senhor sabe quem a cultivou e quais os químicos que foram usados para cultivar essa comida? O senhor sabe como a sua comida é transportada e armazenada?” As questões eram colocada por um cavalheiro vestido com um lungi e um pedaço de tecido a cobrir a sua cabeça, como muitos agricultares no interior da Índia. Ele é inglês convertido em auroviliano, Krishna Mckenzie, o fundador da Quinta da Solidão, um programa de cultivo orgânico único em Auroville. Mckenzie diz-me que se mudou do Reino Unido para Auroville quando tinha 19 anos para levar uma vida simples inspirada pelos ensinamentos que recebeu na escola – Brockwood Park – fundada pelo filósofo e professor indiano J Krishnamurti. “Fui fortemente influenciado pelas filosofias de Masanobu Fukuoka, um mestre zen e agricultor japonês famoso por ser um defensor da agricultura natural. Fukuoka acredita na agricultura minimalista, em que afirma que a natureza já é perfeita e não há nada que possamos fazer para melhorá-la,” diz Mckenzie.
Após 25 anos a viver em Auroville, Mckenzie (apesar de preferir ser tratado por Krishna) é hoje conhecido como o fundador da Quinta da Solidão com seis hectares. Capaz de falar Tamil fluentemente, conta-me sobre a sua esposa e duas crianças tâmiles, e como absorvem os conceitos da agricultura sustentável na quinta.
A VIDA NO TRABALHO
O trabalho dos voluntários começa cerca das 8 da manhã todos os dias e prossegue até ao meio-dia. Eu trabalhei como voluntário durante quatro horas de dois em dois dias. Os voluntários podem trabalhar na quinta ou no café em anexo ou no interior, dependendo das habilidades e interesses de cada pessoa. Os fins-de-semana são livres! Os voluntários são ensinados a semear sementes, joio, a regar as plantas e a colher os vegetais para as refeições. As atividades também incluem a criação de adubo ou ajudar no empacotamento da produção da quinta para o mercado. Uma pessoa também pode oferecer-se para trabalhar no interior em cargos administrativos. Eu optei por trabalhar no exterior da quinta.

CRIAÇÃO DE SABONETE
Um dia, Mckenzie guiou-nos à sua zona de criação de sabonete para nos mostrar como ele cria o sabonete líquido orgânico e multifuncional usado na quinta. “Misturem três partes da casca de limão, um pedaço de açúcar de cana e 10 porções de água. Mexam a mistura uma vez por dia num recipiente fechado. Deixem a fermentar durante duas semanas. Depois, adicionem uma quantidade idêntica de sapindus (10 porções). Subsequentemente, os conteúdos do recipiente ficarão ensaboados e podem ser usados para lavar pratos, roupa e até em banhos”, dizendo enquanto demonstrava o processo. Após terminar o meu trabalho, passeava por Auroville e conhecia e fotografava os residentes. Numa dessas ocasiões, fui convidado para participar numa sessão de terapia do som.

ABRANDAR
Antes de chegar a Auroville, estava apreensivo. Mas em apenas alguns dias, adaptei-me ao estilo de vida alternativo. Quer fosse a ajudar os residentes na reflorestação de um caminho num pedaço de terra limítrofe conhecido como floresta Sadhna, ou a fotografá-los enquanto faziam as suas tarefas diárias, a minha estadia em Auroville foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida. Curiosamente, ainda sigo os princípios do estilo de vida sustentável que absorvi em Auroville. Na minha vida citadina quotidiana, controlo regularmente os meus registos de carbono: desde utilizar transportes públicos e evitar plásticos até lavar a roupa manualmente, tornei-me extremamente consciente sobre reduziar a minha dependência na automação. Talvez neste canto remoto da Índia esteja a solução para o problema que todo o planeta está a enfrentar!